COM CONCA EM ALTA

 

28/09/2010 09h30 - Atualizado em 28/09/2010 13h42

Com Conca em alta, debate é aberto: argentinos são mais resistentes?

Segundo Muricy Ramalho, hermanos rendem mais do que brasucas, pois pouco se lesionam e não costumam sentir saudade de casa

Por André Casado Rio de Janeiro

Rodriguinho e Conca comemoram gol do FluminenseConca comemora com Rodriguinho: meia inspirou
comparação (Foto: Agência Photocâmera)

O discurso inflamado de Muricy Ramalho ao elogiar Conca e destacar sua resistência a pancadas dos adversários gerou repercussão - e opiniões divididas - por aqui. Afinal, invadiu a rivalidade entre as duas maiores potências sul-americanas ao compará-lo com os jogadores brasileiros. Para o técnico do Fluminense, o sucesso do pupilo está ligado também à sua dedicação dentro e fora de campo, o que inclui não se machucar, não reclamar e nem mesmo sentir saudade, características que, segundo ele, nem sempre são compartilhadas no país pentacampeão.

O técnico do Cruzeiro, Cuca, concordou com o colega de profissão e fez uma comparação, em tom de brincadeira, para mostrar que os hermanos são mais agitados.

- Lá, eles (argentinos) tomam tererê (refresco de mate), aqui nós tomamos água de coco. Mas vou contar uma fofoca: Farías e Montillo estão surpresos com a correria do futebol brasileiro. Achavam que era parecido com o argentino e com o chileno, de mais toque de bola - comentou Cuca, que tem no meia Montillo seu principal criador de jogadas.

Já o volante palmeirense Edinho, que no Inter era companheiro de dois argentinos de destaque, não concorda com a opinião de Muricy:

Joguei com Guiñazu e D'Alessandro e sei que há jogadores brasileiros que são assim também. O Conca é um grande jogador, que se doa bastante, mas a maioria dos brasileiros também é assim"
Edinho (Palmeiras)

- Joguei com Guiñazu e D'Alessandro e sei que há jogadores brasileiros que são assim também. O Conca é um grande jogador, que se doa bastante, mas a maioria dos brasileiros também é assim.

Zagueiro do Roma por quase uma década, Antonio Carlos também acredita na tese de que os argentinos suportam mais adversidades físicas e mentais.

- Isso não é de hoje, cansamos de ver exemplos. Os argentinos vão para o exterior mais bem preparados do que os brasileiros. É claro que depende do plano de vida de cada um, se é capaz de se esforçar para colher os frutos. Mas falta profissionalismo em certos casos no Brasil. Tecnicamente somos os melhores, mas na tática os atletas têm muito o que aprender. Na Itália e na Espanha, por exemplo, há rodízios de jogadores. Se você atua em seis de dez partidas, tem de ficar satisfeito. Muitos brasileiros não aceitam isso e já acham que estão sendo preterido e se queimam - avaliou o treinador, que comandou São Caetano, Palmeiras e Grêmio Prudente na temporada.

herrera comemora gol do botafogo sobre o vascoHerrera é sinônimo de raça para a torcida alvinegra
(Foto: Jorge William / Agência O Globo)

No Botafogo, que foi buscar uma dupla de ataque em países vizinhos, Herrera gostou de ouvir as palavras do chefe tricolor, mas ficou em cima do muro.

- Agradeço muito as palavras do Muricy, pois elas dão força para nós que estamos fora do nosso país. Não acho que haja tanto essa diferença, mas quem pode falar melhor sobre isso são os brasileiros - esquivou-se o argentino, parceiro do uruguaio Abreu.

Radicado no Oriente Médio há dois anos, Sebastião Lazaroni comandou a Fiorentina-ITA na década de 1990 e encontrou em Gabriel Batistuta, ícone do futebol rival, um exemplo de profissional. Mas ele não vê os argentinos mais dedicados do que os brasileiros.

- Batistura era jovem ainda, dedicava-se muito e pouco se lesionava, aproveitando assim as oportunidades. Mas não vejo diferenças na dedicação ou no trabalho de brasileiros e argentinos. Isso vai de cada jogador, de cada personalidade. Não ressaltaria só a nacionalidade nesse caso. Mas Conca realmente é um grande jogador, acima da média, foi eleito o melhor do Brasileirão do ano passado com justiça (pelos torcedores) e já está adaptado ao futebol brasileiro - afirmou Lazaroni.